Autismo


Autismo

O que é o Autismo?

O autismo é fundamentalmente uma forma particular de se situar no mundo e, portanto, de se construir uma realidade para si mesmo.

O autismo pode estar ou não associado a causas orgânicas, o autismo é percebido ou notado pelos sintomas que impedem ou dificultam gravemente o processo de entrada na linguagem para uma criança, a comunicação e o laço social.

As estereotipias, as ecolalias, a ausência de linguagem, os solilóquios, a auto agressividade, a insensibilidade à dor ou a falta de sensação de perigo, são alguns dos sintomas que mostram o isolamento da criança ou do adulto em relação ao mundo que os rodeia e sua tendência a bastar-se a si próprio.

O autismo é um transtorno de desenvolvimento que geralmente aparece nos três primeiros anos de vida e comprometem as habilidades de comunicação e interação social.

No início de 2013, mais precisamente a 18 de Maio, foi lançada a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), que trouxe algumas mudanças importantes, entre elas novos diagnósticos e alterações de nomes de doenças e condições que já existiam.

Nesse manual, o autismo, assim como a Síndrome de Asperger, foi incorporado a um novo termo médico e englobador, chamado de Transtorno do Espectro do Autismo. Com essa nova definição, a Síndrome de Asperger passa a ser considerada, portanto, uma forma mais branda de autismo. Dessa forma, os pacientes são diagnosticados apenas em graus de comprometimento, assim o diagnóstico fica mais completo.

O Transtorno do Espectro do Autismo é definido pela presença de “Défice persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, atualmente ou por história prévia”(DSM-V).


Sinais de alerta

As crianças, normalmente, dão os primeiros sinais de autismo logo no primeiro ano de vida, podendo variar até ao 3º ano. Caso observe qualquer sinal de transtorno em seu filho, converse com um médico. Ele poderá recomendar exames específicos. Segue alguns comportamentos da criança de alerta:

- Não responder com sorriso ou expressão de felicidade aos seis meses

- Não imitar sons ou expressões faciais aos nove meses

- Não balbuciar aos 12 meses

- Não gesticular aos 12 meses

- Não dizer nenhuma palavra aos 16 meses

- Não dizer frases compostas de pelo menos duas palavras aos 24 meses

- Perder habilidades sociais e de comunicação em qualquer idade.

Devemos ter em atenção que cada criança é uma criança diferente e que cada uma delas tem o seu próprio ritmo de desenvolvimento e somente o médico poderá dar um diagnóstico final, com exames associados.


Sintomas de Autismo

A maior parte dos pais de crianças com autismo suspeitam que algo está errado antes de a criança completar 18 meses de idade e procura ajuda antes que ela atinja os 2 anos. As crianças com autismo normalmente têm dificuldades em:

- Brincar de faz de conta

- Interações sociais

- Comunicação verbal e não-verbal

Algumas crianças com autismo parecem normais antes de um ou dois anos, mas de repente "regridem" e perdem as habilidades linguísticas ou sociais que adquiriram anteriormente. Esse tipo de autismo é chamado de autismo regressivo.

Uma pessoa com autismo pode:

- Ter visão, audição, tato, olfato ou paladar excessivamente sensíveis;

- Ter uma alteração emocional anormal quando há alguma mudança na rotina;

- Fazer movimentos corporais repetitivos;

- Demonstrar apego anormal aos objetos.

Os sintomas do autismo podem variar de moderados a graves e os problemas de comunicação no autismo podem incluir:

- Não conseguir iniciar ou manter uma conversa social;

- Comunicar-se com gestos em vez de palavras;

- Desenvolver a linguagem lentamente ou não desenvolvê-la;

- Não ajustar a visão para olhar para os objetos que as outras pessoas estão a olhar;

- Não se referir a si mesmo de forma correta;

- Não apontar para chamar a atenção das pessoas para objetos (acontece nos primeiros 14 meses de vida).

Existem diversos sintomas que podem indicar autismo, e nem sempre a criança apresentará todos eles. Entre os grupos de sintomas que podem afetar uma pessoa com autismo estão:

Interação social

- Não faz amigos;

- Não participa de jogos interativos;

- É retraído;

- Pode não responder a contato visual e sorrisos ou evitar o contato visual;

- Pode tratar as pessoas como se fossem objetos;

- Prefere ficar sozinho, em vez de acompanhado;

- Mostra falta de empatia.

Resposta a informações sensoriais

- Não se assusta com sons altos;

- Tem a visão, audição, tato, olfato ou paladar ampliados ou diminuídos;

- Pode achar ruídos normais dolorosos e cobrir os ouvidos com as mãos;

- Pode evitar contato físico;

- Esfrega as superfícies, põe a boca nos objetos ou os lambe;

- Parece ter um aumento ou diminuição na resposta à dor.

Brincadeiras

- Não imita as ações dos outros;

- Prefere brincadeiras solitárias ou ritualistas;

- Não faz brincadeiras de faz de conta ou imaginação;

Comportamentos

- Acessos de raiva intensos;

- Fica preso em um único assunto ou tarefa;

- Baixa capacidade de atenção;

-Poucos interesses;

- É hiperativo ou muito passivo;

- Comportamento agressivo com outras pessoas ou consigo;

- Necessidade intensa de repetição;

- Faz movimentos corporais repetitivos.


Diagnóstico de Autismo

O médico procurará por sinais de atraso no desenvolvimento da criança. Se observados os principais sintomas do autismo, o médico encaminhará a criança em questão para um especialista, que poderá fazer um diagnóstico mais exato e preciso. Normalmente, ele é feito antes dos três anos de idade, já que os sinais do transtorno costumam aparecer cedo.

Para realizar o diagnóstico, o médico utiliza o critério do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria. De acordo com este Manual, a criança poderá ser diagnosticada com autismo se apresentar pelo menos seis dos sintomas clássicos do transtorno.


Psicomotricidade e o Autismo

O psicomotricista tem a possibilidade de usar o seu corpo, fonte primária do alcance da empatia e comunicação, e o jogo, ferramenta básica de intervenção, para promover o desenvolvimento global das crianças. Deste modo, para superar as dificuldades dos indivíduos com Transtorno do Espetro do Autismo devemos investir e trabalhar as dificuldades no desenvolvimento social; na comunicação e linguagem; de antecipação e flexibilidade e de simbolização.


Dificuldades no Desenvolvimento Social

Dadas estas dificuldades, a criança deve encontrar um adulto que a "ouça", que a aceite, que esteja disponível para responder às suas necessidades e presente para corresponder aos seus interesses e modo de relacionamento.

Devemos utilizar materiais com base nos gostos e interesses da criança, proporcionando, em função das suas peculiaridades, a relação e o reconhecimento do outro, em virtude do seu reconhecimento.

O sucesso passa também pela capacidade de estar presente na vida da criança, conseguir a empatia necessária para a retirar da solidão, procurando relações agradáveis, de modo a que num primeiro contacto reconheça o técnico e logo depois o procure para participar e jogar.

Alcançar esse diálogo tónico dependerá da disponibilidade corporal do psicomotricista para o contacto ou da sua capacidade de utilização dos mediadores corporais da relação, tais como o olhar, a voz e o gesto.


Dificuldades na Comunicação e Linguagem

No que se refere às dificuldades relacionadas com as funções comunicativas, a prática psicomotora permite ao psicomotricista interpretar a comunicação não-verbal da criança como forma de expressão. O gesto, a expressão facial, o tom de voz são sinais de sistemas alternativos de comunicação que o técnico não deve descurar.

Em relação às dificuldades na linguagem expressiva, o terapeuta deve jogar, consoante o caso, com as emissões sonoras, ecolálias ou palavras descontextualizadas, de forma a dar significado e ajustar-se ao contexto de jogo, procurando a cumplicidade como modo de comunicação. Por vezes, noutras situações, estas devem ser extintas. É também fundamental registar, fazer uma análise funcional e perceber como os sons ou palavras, sem sentido aparente, se podem refletir no estado emocional ou se por outro lado, são produzidos perante determinadas situações ou estímulos.

A fim de enriquecer o vocabulário da criança, o técnico deve utilizar objetos do interesse da mesma. Ao mesmo tempo, deve incentivar a interação entre pares e proporcionar atividades onde a linguagem, entre estes, esteja patente.

Relativamente às complicações na linguagem recetiva é fundamental que o técnico tenha em consideração o seu próprio dialeto, evitando vocabulário que possa provocar confusão e, por vezes, o aparecimento de ecolálias, uma vez que a criança não entende o significado de palavreado tão elaborado (existem outras formas de comunicação mais corporais). É importante evitar frases longas, pronunciando apenas ordens simples, palavras-chaves e gestos que permitam esclarecer os pedidos, tendo sempre em atenção que a linguagem está associada à ação e é contextualizada. Pode-se também recorrer à modulação do tom de voz para indicar a aceitação ou negação de condutas ou para expressar e ajudar à perceção do humor. Outro recurso útil para facilitar a compreensão e até mesmo a expressão é utilizar fotos, desenhos ou vídeos e realizar comentários sobre as situações vivenciadas.


Dificuldades de Antecipação e Flexibilidade

Em relação às dificuldades de antecipação, são importantíssimos jogos de carácter circular (com uma estrutura básica que se repete) e de antecipação, na medida que conduzem ao aparecimento de padrões de comunicação intencional e ao desenvolvimento dos primeiros esquemas da criança.

A organização prévia do espaço da sala de intervenção evitam que a criança se sinta perdida, uma vez que confere uma estrutura de segurança por ter sinais claros que a ajudam a antecipar. Assim, esta estruturação espacial e sequencialização temporal permitem desenvolver as capacidades de antecipação, sem causar ansiedade. No entanto, deve-se procurar introduzir sempre pequenas modificações.

Face à inflexibilidade comportamental, nomeadamente a comportamentos ligados a estereotipias motoras, recorre-se à imitação, para promover uma conexão com a pessoa. Com o intuito de moldar a sua estereotipia deve-se, em primeiro lugar, imitá-la, para que de seguida se introduze pausas e mudanças de ritmo na mesma. Do mesmo modo, dotar de sentido lúdico as estereotipias, favorece a cumplicidade com o indivíduo.


Dificuldades de Simbolização

Neste âmbito, no que diz respeito às competências de ficção e imaginação, dada as extremas dificuldades dos indivíduos com Autismo, devem-se executar jogos de conteúdo pré-simbólico: aparecer/desaparecer, perseguições, puxar/dar, cheio/vazio.

No mesmo sentido, o técnico deve também realizar jogos de carácter simbólico, recorrendo previamente a brinquedos que reproduzam objetos reais, de forma a facilitar o seu desenvolvimento.

No que diz respeito às competências de imitação, o psicomotricista deve tentar obter a atenção da criança, atuando como um espelho do comportamento da mesma, ao mesmo tempo, que garante que o seu comportamento de imitação está enquadrado em situações de interação.